sábado, abril 06, 2024

Histórias Exemplares (XIX) - Cheiremos, pois!

 

Depois de tanto ter estado na ordem do dia literário, quando Patrick Süskind publicou o Perfume em 1985, os odores retomam um certo efeito de moda com vários narradores (e, sobretudo, narradoras!) a relatarem a relação com eles.

Um dos títulos mais interessantes desse aparente efeito de moda é o L’Appel des Odeurs, que Ryoko Sekiguchi publicou na P.O.L. e é um conjunto de quase duas dúzias de contos passados em geografias e épocas variadas, envolvendo, ou não, aventuras amorosas, porque também são convocados os progenitores admirados nos ofícios de tipógrafos ou cozinheiros, ou as criações artísticas baseadas nessas sensações.

Logo no início temos uma personagem feminina, que se deixa levar pelo êxtase de quem cheira e sobre que escreve abundantemente num caderno de notas com uma linguagem cada vez mais olfativa.  E por isso ali surgem descrições do cheiro coalhado, do da pele húmida, do do feno podre, do das ondas, do da tinta, do da fome, do de uma voz, do de uma história, do de mentiras, do de uma sombra, do de uma criança, do do pressentimento, do do amor, do de uma pintura, do da separação, do do desaparecimento ou do da primeira palavra.

E, no entanto, quão difícil é descrever o que não se vê e só se identifica a partir do que lhe serve de causa... 

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