1. Realizador estimável, sem nunca nos conseguir verdadeiramente deslumbrar nessa atividade específica, António Pedro Vasconcelos foi notícia em 5 de março pela mais triste definitiva das razões. Mas, homem simpático, também mereceu lautos testemunhos de amizade, que não deixaram de evocar o seu envolvimento em batalhas cívicas deveras importantes como as de contrariar a privatização da TAP. Justifica-se, pois, que o lembre por muito que só alguns filmes continuemos a ver (Perdido por Cem, O Lugar do Morto ou Jaime), mais pelo que significaram na altura da estreia do que pela efetiva valia. Além disso, numa das pugnas cinéfilas em que se envolveu, e por muito que Truffaut me seja simpático, prefiro mil vezes os filmes de Jean Luc Godard, disso dele discordando!
2. Num programa já com alguns meses ouço o Mário Augusto multiplicar adjetivos para relevar Michael Cimino como realizador importante da cinematografia norte-americana, mesmo tendo o cuidado de reconhecer o quanto o filme dedicado ao Vietname foi qualificado como claramente reacionário.
O Caçador até consegue ver-se com algum interesse, dele sobrando cenas memoráveis, que não desmentem os equívocos ideológicos a elas subjacentes, mas Cimino poderá equiparar-se a uma Leni Riefenstahl, que nunca conseguiu desmentir a costela nazi por muito que lhe admiremos o filme sobre os Jogos Olímpicos de Berlim ou o que celebrou o Congresso de Nuremberga. Até porque, no feitio, um e outro, conseguiam ser insuportáveis...
3. John Ford atribuía às origens irlandesas o sentido estético. Não admira que, aos 57 anos - em 1951 - tenha decidido voltar a Connemara, donde proviera a família - para rodar o encantatório O Homem Tranquilo, com John Wayne e Maureen O’Hara, sobre o regresso de um emigrado à terra natal. Forma de Ford homenagear uma terra de que ouvira tantas maravilhas durante a infância.
Ford demorou quase vinte anos a planear a concretização deste título que, de alguma forma, tanto tinha a ver consigo, porque nela sentia ressoar as memórias da própria mãe. Por isso, em vez de uma Irlanda real, é a mítica, a de conto de fadas, conservada nas memórias, que ele nos ofertou.
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