No final da adolescência li um romance de Curzio Malaparte, que estava a merecer algum entusiasmo à minha volta enquanto comprovava a pífia natureza da primavera marcelista.
A Pele, assim se chamava o livro, tinha por cenário a libertada Nápoles dos finais de 1943 e pretendia mostrar não haver grandeza na nova pax americana, como nunca a tivera a sinistra dominação mussoliniana. Nos labirintos do bairro espanhol crescia uma peste feita de falta de escrúpulos, miséria e sujidade, tudo aí se vendendo num mercado negro, que coexistia com a pujante prostituição.
A trama impressionava pela descrição de situações próximas da abjeção, que justificavam alguma desorientação quanto às verdadeiras intenções do autor. Sobre o qual viria depois a saber que fora convicto fascista, antes de se recauchutar como oficial de ligação entre o derrotado exército italiano e o ocupante norte-americano.
Em 1949, quando conheceu imerecido sucesso com este romance, Malaparte não viu melhor forma de compensar a frustração da derrota do que pôr os G.I’s a tremerem perante a força bruta do Vesúvio. Como se a cólera divina, assente num efetivo acontecimento vulcânico, pudesse ser a salvaguarda de uma populaça que, como se vê atualmente com a governação Meloni, continua a ter os genes fascistas a integrar-lhe o ADN.
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