segunda-feira, julho 17, 2023

Memórias pendulares

 

1. Estou a seguir com muito interesse o percurso teatral e cinematográfico de Marco Martins que, com «Pêndulo», oferece mais uma versão do realismo contemporâneo, feito de trabalhos precários e mal remunerados, que cerceiam os legítimos anseios de quem deseja ter uma qualidade de vida digna.

Nesta peça em que empregadas domésticas e cuidadoras de idosos dão conta das suas experiências temos novo retrato sombrio sobre uma sociedade que não se livra da exploração dos humilhados e ofendidos e lhes inibe a esperança em radiosas utopias.

2. Embora colada à sua participação no “Blowup” de Antonioni e nas canções com Serge Gainsbourg, Jane Birkin revelou-se uma mulher extremamente interessante nas opções quanto ao que interpretava, cantava ou nas lutas em que militava. Sempre com um sorriso cativante onde se adivinhava uma inocência raramente posta em causa pelos desgostos, que a sua biografia comporta.

A notícia da sua morte deixa-nos mais longe de uma época em que essa inocência ainda não fora pervertida pelas iniquidades políticas e sociais que, desde então, se nos tornaram incontornáveis.

3. Na sua última crónica para a Antena 2 antes das férias, Mário Cláudio enfatizou a importância dos álbuns, quando tinham merecido destaque na sala de receber visitas das famílias tradicionais. Eles eram os testemunhos das origens de que se provinham e da subsequente escalada social.

Hoje tiramos tantas imagens com os telemóveis, que cada perderam a importância das desse passado, quando a pose perante o fotógrafo era acontecimento digno de ser devidamente planeado e organizado. 

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