sábado, julho 30, 2022

Eva, Joseph Losey, 1962

 

Baseia-se num romance do mestre James Hadley Chase, mas pouco possui da natureza dos filmes negros a que os romances dele deram ensejo. 

Passando-se entre Roma e Veneza encontramos um bem sucedido argumentista de cinema, Tyvian Jones, que muito explora o glamour do  seu proclamado passado de mineiro no País de Gales natal. Agora todos o admiram, sobretudo depois do sucesso do filme resultante do primeiro romance, e a maior defensora é Francesca, uma executiva da indústria cinematográfica com quem se apresta a casar. Acaso tudo decorresse de acordo com o que perspetivava estar-lhe-ia reservado o futuro tranquilo dos autores de fraudes, que sabem gerir os equívocos sobre que fundamentaram a ascensão ao topo. Mas, uma noite, junto à ilha veneziana onde tem casa, um barco avaria-se e é assim que conhece Eva, uma prostituta de luxo por quem ganha avassaladora obsessão, e sobre ele exerce um ascendente baseado em sucessivos jogos sadomasoquistas.

O triângulo amoroso entre Tyvian, Francesca e Eva (que é quadrado se contarmos com o produtor do filme baseado no bestseller do galês desejoso, ele próprio, de casar com a sua assistente) acabará em tragédia, quando os jogos do gato e do rato entre seduzido e sedutora são levados até à contraditória lógica de um e do outro.

Embora possamos presumir referências aos filmes de Antonioni e de Fellini rodados na viragem dos anos 50 para a década em que este se estreou, Eva é proposta pouco simpática, porque não é possível sentir qualquer empatia com nenhum dos personagens. Talvez porque olhar para os muitos espelhos, que Losey espalhou pelo filme, lembre que podem existir abismos entre o que possamos desejar e as realidades que possamos alcançar. 

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