Aprecio os documentários assinados por Patrick Jeudy, quer reportem a personalidades da sétima arte (Marilyn Monroe, Jayne Mansfield, Gérard Philipe), da política (De Gaulle, Churchill) ou com ela aparentadas (Jackie Kennedy, Eleanor Roosevelt). Em todos detalha a evolução dos acontecimentos e tenta explica-los à luz da educação colhida nas respetivas infâncias (amiúde traumáticas) como se os desideratos infelizes posteriores tivessem algo de determinista.
Datado de 2018, Conversa com Romy Schneider focaliza-se prioritariamente no testemunho da jornalista Alice Schwarzer a quem a atriz se confiou abertamente numa noite muito especial de dezembro de 1976 a pretexto de fazer capa da revista feminina, que estaria para se lançar nesse natal. E são as revelações sobre o passado nazi dos pais, que permitiram-lhe compreender melhor algumas das situações estranhas vividas na infância, ou o assédio sexual do padrasto, quiçá facilitado por uma mãe interesseira, que sempre dela se procurou aproveitar como forma de recuperar o perdido brilho de quando fora uma das estrelas da UFA.
O longo testemunho gravado em áudio permite perceber como Romy sempre se viu destratada pela Alemanha e procurara em França outros amores e modos de encarar a vida. O fracasso da relação com Alain Delon tê-la-á feito infletir para logo compreender quão inacessível era a felicidade do outro lado da fronteira, onde um casamento e o nascimento do primeiro filho demonstrou a inaptidão para se acomodar à vida rotineira de “mãe de família”.
O filme elucida, igualmente, a frustração de quase nunca se ver dirigida pelos grandes realizadores do seu tempo: se Visconti a procurou para o seu Ludwig foi por não haver quem melhor personificasse Sissi e o encontro com Orson Welles em O Processo correspondeu a uma passagem quase clandestina do filme pelos ecrãs de então. Por isso rendeu-se à colaboração com nomes estimáveis da época - Claude Chabrol, Costa Gravas, Bertrand Tavernier - muito embora em maior numero de contassem os, ainda que conceituados, tarimbeiros (Demy ou Sautet).
Contraditória, mas também muito frágil, Romy acabou por ser uma personagem de tragédia e, como tal, uma protagonista adequada ao perfil tão esmiuçado por Jeudy na sua filmografia.
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