Dora nasceu em Viena em 1882, catorze meses depois do irmão Otto. No relato do seu caso, Freud dá pouca importância à mãe, tida como inculta, mas tirânica na relação com os filhos, não conseguindo uma relação empática, que desse provimento ao que seria expetável da sua influência maternal. Depreciativamente Freud arruma-a nos casos de «psicose das donas-de-casa.» E, no entanto, como viria a reconhecer ulteriormente, os problemas de Dora poderiam explicar-se em grande parte por esse défice afetivo recolhido de quem a dera à luz.
Aos cinco anos Dora chuchava continuamente o polegar esquerdo enquanto puxava as orelhas de Otto com a outra mão. A compensação oral era complementada pelo papel de substituição assumido pelo irmão. A histeria revelava-se no conflito psíquico, que dissociava a representação do afeto na forma de recalcamento, denunciado no sobreinvestimento libidinoso de uma parte erógena do corpo, com que descarregava a excitação.
A atividade intensa da zona bucal de Dora causara a irritação da garganta, que explicaria a tosse persistente e, depois, a afonia. Os sintomas explicitavam o desejo reprimido do fantasma sexual.
Freud enfatiza o papel de Philipp, o pai de Dora, em quem reconhecia inteligência, perspicácia e atenção aos filhos, sobretudo quando ela estava na fase edipiana. Mas, quando ela tinha seis anos, a tuberculose do pai obriga a família a mudar-se para a vila termal de Murano, onde conhecem os Zellinka, aí radicados por motivos similares, já que Peppina, a esposa, apresenta perturbações nervosas. Ao constatar quanto ela passa a ser importante para Philipp, que a tomara por amante, Dora revelava novos sintomas psicossomáticos: deslocamento na retina, momentos de paralisia, enxaquecas. Eles agravam-se, igualmente, devido a uma conversa ouvida aos adultos, segundo a qual ficara a saber que o pai contraíra sífilis antes do casamento, o que fè-la identificar a sexualidade com uma vertente destrutiva, que estaria na origem da desorganização familiar. Nalguns dos fantasmas, que a obcecavam, imaginava o coito do pai com Peppina.
Na época Freud só apostou no complexo de édipo positivo. Mais tarde suspeitaria da bissexualidade de Dora, componente ainda ausente da sua congeminação teórica e que poderia explicar mais aprofundadamente os mistérios da mente da paciente.
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