sábado, dezembro 18, 2010

Teatro: «1974» do Teatro Meridional

Desilusão inesperada foi a sensação com que saímos do Teatro Nacional D. Maria II depois de ver a mais recente produção do Teatro Meridional.
Resultado tanto mais estranho quanto as críticas eram boas, os actores são excelentes, as ideias cenográficas são interessantes e, à partida, o espectáculo teve um inspirador do gabarito de José Mário Branco.
A escolha pelas técnicas performativas, mais do que pela estética dramatúrgica convencional começa por ser um risco, já que os espectadores não estão propriamente identificados com opções dispensadoras das palavras.
Mas o que falta para que o nível de satisfação inflectisse não são propriamente as palavras. O que se sente como estranha ausência é a formulação de uma resposta mobilizadora à constatação de impasse em que nos encontramos nesta altura. Como o conseguiu o «Bando» no seu «Rua de Dentro», quando punha as três mulheres a subirem a encosta e a desaparecerem do outro lado.
Aqui conclui-se pela insatisfação face a um país, que depois da miséria e do preconceito da época fascista se entregou ao consumismo, ao poder dos boys, à vacuidade do discurso político ou ao glamour de opereta das revistas cor-de-rosa ou dos espectáculos ao estilo de Catarina Furtado. Depois de ter passado por esse momento mágico, o da Revolução de Abril, traduzido aqui em mímica e em completa ausência de sons.
Há uns anos a Barraca transportou para o contexto português esse Baile que Ettore Scola começara por imaginar em linguagem cinematográfica. As canções e os movimentos dos actores nas pistas de dança iam dando o reflexo dos acontecimentos e dos valores de cada época. Poderia ter sido uma boa solução para Miguel Seabra e para os seus jovens colaboradores. Nomeadamente a canção de José Mário, que mais apeteceria entoar no final: «eu vi este povo a lutar/para a sua exploração acabar/ sete rios de multidão/que levavam a História na mão.
Aqui não se leva senão a apagada e vil tristeza de tudo quanto é fado...


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