É um filme a que apetece voltar amiúde por ser daqueles em que cada revisão traz novidades sobre quanto passara antes despercebido: Os Sete Samurais é uma belíssima obra-prima, que Akira Kurosawa rodos em 1954 e teve pálida réplica seis anos depois, quando John Sturges transferiu para o faroeste a mesma história: a de uma aldeia de pobres agricultores em vias de serem atacados por um miniexército de bandidos, socorrendo-se, em desespero de causa, de sete ronins, samurais sem patrão, que acedem a defendê-los em troca de comida.
Kurosawa é brilhante na forma como ilustra as tensões iniciais entre os camponeses e os que os vêm defender havendo entre uns e outros uma enorme diferença social de valores e mundividências.
É a luta de classes como não poderia deixar de ser. Mas, como tantas vezes sucedeu na História, todos sacodem as contradições e convergem na defesa do interesse comum, para obterem a improvável vitória à chuva.
Essa fase final do filme é notável na forma como o realizador a fez possível numa época em que os efeitos especiais eram tão limitados. E, recorrendo a outras inovações - a menor não terá sido o recurso á câmara lenta - tornar-se-ia numa referência para tantos realizadores, que o incensaram como seu putativo formador.
Coppola foi um deles e tudo faria para dar a Kurosawa a possibilidade de rodar filmes numa altura em que, no Japão, o davam como artisticamente morto e enterrado. E algum do western spaghetti de Sergio Leone também nele colheria inspiração.
No rescaldo da vitória, Kambei, o chefe dos sete guerreiros, compreende que ela é pertença dos camponeses, porque os três sobreviventes são meros testemunhos de uma época que, nesse século XVI, começava a ser obsoleta. Sem o terem compreendido de início, os sete heróis concluíram com uma luta justa a condenada gesta face à entrada em cena dos comerciantes europeus e o recurso às armas de fogo.
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