quarta-feira, março 09, 2016

DIÁRIO DAS IMAGENS EM MOVIMENTO: «As Tormentas» de Pierre-Yves Vandeweerd (2013)

“ A tormenta” é uma tempestade de neve que desorienta e faz perder as referências. É, igualmente, o nome dado no século passado a uma melancolia provocada pela dureza e duração dos invernos.
Quando sopra a tormenta os homens fazem tocar os sinos das igrejas para facilitarem a localização aos que estão perdidos. E os pastores, durante as suas transumâncias, não deixam de invocar as almas perdidas ou esquecidas.
Partindo desta informação inicial, o cineasta belga Pierre-Yves Vandeweerd convida a entrar numa odisseia poética e inspirada sobre a loucura em dois testemunhos paralelos, que ressoam um no outro.
Vemos, assim, um pastor em vias de partir com as suas ovelhas para as montanhas do Lozère, cumprindo previamente os rituais consagrados aos que andam perdidos (invocação, sepultura e sacrifício) segundo as recomendações em occitano de uma voz ciciada. E, no asilo psiquiátrico de Saint-Auban, uma aldeia situada na região, os pacientes enumeram os nomes de alguns dos seus três mil predecessores aí enterrados entre 1880 e 1980, enquanto uma voz evoca os casos clínicos de alguns mais através de relatórios da época.
Se Pierre-Yves Vandeweerd deixou os territórios africanos da sua predileção e dedicou-se às montanhas nevadas de Lozère, foi para ainda mais aprofundar a singularidade e a força evocadora do seu estilo, conhecido anteriormente em documentários como «Território Perdido» ou «Círculo dos Afogados».
As imagens minerais quase despojadas das suas cores, os grandes planos sobre os corpos e as panorâmicas meditativas sobre as paisagens cobertas de neve, encontram eco nas extensões desérticas dos seus filmes anteriores.
Há também a banda sonora dessincronizada, a composição envolvente das cordas, as vozes moduladas e a musica concreta assombrada pelo som do vento e o ranger das rochas, que ilustram bem as dificuldades das pessoas ali aprisionadas.

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