quarta-feira, maio 13, 2020

(DIM) «Noites Mágicas» de Paolo Virzi


Em janeiro de 2016 os sobreviventes da época de ouro do cinema italiano - a de Fellini, Antonioni, Pasolini e tantos outros grandes realizadores—acompanharam Ettore Scola à sua última morada.  Observando-os, Paolo Virzi concebeu a ideia para este filme, que começa no dia 3 de julho de 1990, quando, nos penaltis, a Itália foi eliminada pela Argentina das meias-finais do Mundial de Futebol. No momento em que Serena falha o golo, um carro cai ao rio Tibre e dele será retirado o cadáver de Leandro Saponaro, um dos principais produtores cinematográficos. Como se a derrota italiana no futebol coincidisse com o dobre de finais sobre a época de que esse morto fora figura graúda.
Lançado o incipit, passa-se para o interrogatório dos que tinham partilhado uma fotografia com Saponaro antes do momento fatal. E é assim que três jovens finalistas do prémio Solinas contam o que sucedera nas semanas anteriores em que, paralelamente com a evolução do evento desportivo, iam-se adentrando no ambiente dos realizadores, dos argumentistas e de alguns atores de cinema. Esse flash back ganha um ritmo diabólico a evocar as considerações que, para escândalo de muitos, Eduardo Prado Coelho teceu a propósito de Música no Coração, exemplo paradigmático de um certo cinema pornográfico. Não tanto por vermos uma ama doidinha por se meter entre lençóis com o pai das criancinhas de que se responsabilizava, mas porque Robert Wise construíra o filme à base de múltiplos orgasmos, cada um deles coincidindo no clímax com as sucessivas canções interpretadas por Julie Andrews.
É nessa mesma lógica que Virzi põe os três jovens argumentistas numa roda-viva de festas, reuniões e discussões em cafés, que demonstram a voracidade dos antigos argumentistas ao disporem de oficinas de escrita com jovens «assistentes» a darem vazão às encomendas de textos destinados ao cinema ou à televisão. Diferentes entre si - Antonino é o cinéfilo provinciano do mezzogiorno, Luciano o rebelde esquerdista sempre pronto para a satisfazer a inesgotável líbido e Eugenia a toxicodependente de má-consciência com a classe em que nasceu - os três jovens vão cruzando-se com os grandes nomes de um tipo de cinema que está moribundo, apesar dos esforços de alguns - mormente Nanni Moretti -, para que tal não suceda.
Conduzidos nessa vertigem não deixamos de reparar na superficialidade de uma história, que se esgota na ideia inicial e multiplica personagens secundárias à volta das principais, sem lhes dar mais consistência do que a dos lineares estereótipos.
Nota-se em Virzi, e também em Sorrentino, essa aceleração das intrigas, que não propõem questões mais complexas do que as evidenciadas numa primeira e única leitura. O que confirma a tese principal do filme: que a crise na indústria cinematográfica italiana não se limita à dos seus canais de produção. Existe, igualmente, nas ideias dos que pegaram no testemunho da geração aqui homenageada.

Sem comentários: