quarta-feira, dezembro 06, 2017

(DIM) O escândalo Bergman - Rossellini

Ao iniciar a rodagem de «Stromboli» Ingrid Bergman já começara a negociar o divórcio com o dentista sueco com que se casara. Mas a situação ganharia dia-a-dia contornos cada vez mais rocambolescos: o marido abandonado naturalizou-se norte-americano para atrair a si os favores da opinião pública sugestivamente escandalizada pela forma como os jornais iam relatando o caso.
Aconselhado por um advogado, Rossellini intenta-lhe um processo judicial no México por difamação, aproveitando as facilidades com que a jurisprudência local analisava esse tipo de casos.
Ingrid Bergman, até então idolatrada como moralmente irrepreensível, vê-se arrastada para a lama por abandonar uma família-modelo e a filha de 13 anos trocando-os por um macho latino politicamente suspeito, pois tanto cultivara amizades com fascistas como com comunistas.
Já estava na rodagem do seu primeiro filme com o amante, quando recebe uma carta ameaçadora da Production Code Administration, que a insta a corresponder aos padrões aceites de boa conduta sob pena de ver encerrada a carreira cinematográfica.
No Senado um obscuro senador do Colorado teve direito aos seus quinze minutos de fama, tomando a palavra para denunciar as malfeitorias da atriz.  Seguiu-se a proibição de entrada em território norte-americano por má conduta moral.
Quem não se privou de fazer uns dólares com a situação foi Howard Hughes, que se aprestou a estrear a versão americana do filme, apesar de desautorizado por Rossellini. Mas nenhuma das versões, a italiana ou a americana, conseguirão sucesso imediato: só com o decurso dos anos o filme foi devidamente valorizado e qualificado de obra-prima.
Por procuração, os amantes escandalosos casaram-se entretanto no México vindo a ter três filhos, duas raparigas (Ingrid e Isabella) e um rapaz (Robertino).
Nos anos seguintes, em vez de ver a carreira interrompida como o exigiam as autoridades norte-americanas, Ingrid Bergman nunca deixa de rodar filmes com o marido: «Europa 51» estreia-se em 1952, «Viagem a Itália», «O Medo»  e «Joana d’Arc na Fogueira» todos em 1954.
Mas a paixão dilui-se instalando-se o tédio. Não basta o Ferrari, que ele lhe dá para que Ingrid se sinta compensada com um casamento a estiolar-se. Procurando recuperar a antiga liberdade, Rossellini vai filmar para a Índia e enceta aí uma nova aventura romântica com uma argumentista local.
Ingrid Bergman aceita propostas para filmes de outros realizadores como sucede em 1956 com Jean Renoir, que lhe dá o papel principal em «Elena e os Homens». E a América reconcilia-se com ela, reabrindo-lhe as portas de Hollywood para o papel de «Anastasia» no filme de Anatole Litvak, que lhe vale um novo Óscar. Tinha-se-lhe concluído um ciclo de sete anos, que constituíra um sonho depois transformado num pesadelo. E como o divórcio de Petter Lindström nunca fora confirmado, o casamento com Rossellini acabara por não ter qualquer valor jurídico... 

Sem comentários: