terça-feira, novembro 21, 2017

(S) A recordação de um anarca inconsequente

Os comunistas franceses nunca morreram de amores por Georges Brassens e ele pagou-lhes na mesma moeda. Ao contrário de Léo Ferré, que até por ter musicado e cantado Louis Aragon mereceu deferência dos organizadores da Festa do Humanité, o cantor de Sète sempre se assumiu como libertário e, como tal, justificou as desconfianças de quem, mesmo apreciando-lhe as canções provocatórias, as sabia inconsequentes para mudar fosse o que fosse.
Se queremos encontrar canções, que desafiem a  autoridade, a hierarquia e todas as demais premissas da ordem estabelecida, o reportório de Brassens dá-nos munições contundentes. Mas a impertinência contra as boas maneiras nada contribuíram para que essa ordem burguesa saísse beliscada.
Na época era um cantor completamente a contracorrente em relação às modas: extremamente inteligente, gostava de provocar o público com o recurso ao vernáculo, não deixando de apelar à sua inteligência. Ademais, ateu determinado, afirmava-o de forma quase sempre blasfema.
Em 1972 conhece em palco uma das maiores satisfações ao cantar «Gare aux Gorilles» no Bobino, depois de ter visto tal tema proibido durante anos a fio. Antimilitarista contumaz, afirmava sê-lo por, desde criança sempre ter detestado a disciplina. Já então o que mais gostava era dizer não.
Ao morrer em 1981, quando só contava 60 anos - e seis meses depois da vitória presidencial de François Mitterrand - o cantor pouco se devia identificar com a revolução serena, que se prometia levar por diante. É que pouco fazendo para a precipitar, Brassens preferiria sempre uma reviravolta mais tonitruante. Provavelmente esperançado que ela nunca acontecesse enquanto fosse vivo...

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