quinta-feira, outubro 19, 2017

(EdH) As Guerras de Ocupação nas colónias africanas

Voltámos a ter o privilégio de assistir às aulas de História na RTP 2 numa série de programas intitulado «História a História África», que também pode ser visto na net: https://www.rtp.pt/play/p3951/historia-a-historia-africa .
No primeiro episódio, agora emitido, estiveram em causa as Guerras de Ocupação em África no final do século XIX, que culminaram na bravata de Mouzinho de Albuquerque em Chaimite, quando aprisionou o rei dos Vátuas, Gungunhane. Ora esse momento histórico era intensamente utilizado pelo salazarismo na época em que entrei para a Escola Primária no início dos anos 60: para justificar a ordem de seguir para Angola em força o único canal de televisão então existente apresentava com regularidade o filme que Jorge Brum do Canto rodara em 1953 com Jacinto Ramos no papel principal e música «heroica» de Joly Braga Santos. Não admira, pois, que aquele chefe africano fosse um dos mais detestados «maus da fita» da minha infância.
A importância desta série - que pena, mas ao mesmo tempo tão esclarecedor, não ser transmitida a hora de grande audiência no canal 1! - é dar-nos a oportunidade de melhor clarificarmos algumas das conclusões entretanto adquiridas sobre esse período da História portuguesa. Por exemplo que, ao contrário, do que o regime fascista nos pretendia convencer, a ocupação de África não datava do século XVI, mas do século XIX, porquanto até então existiam tão só as fortalezas e entrepostos polvilhados por toda a costa africana para aí garantirem o comércio de mercadorias para os portos europeus e, depois, sobretudo - quando elas consistiam em escravos -, para os litorais brasileiro, caribenho ou norte-americano.
A efetiva ocupação da «África portuguesa» não chegou a durar um século e à conta das Guerras de Pacificação em que os centuriões coloniais utilizavam carabinas e canhões contra as lanças e azagaias indígenas.
Rosas também lembra as razões porque os republicanos tinham tanto apreço pelas colónias: não só a discussão sobre a sua posse tinha desempenhado importância primordial na altura do Ultimato impulsionando-os como movimento político em irreversível ascensão, como as possessões africanas conseguiam conter as intenções anexionistas castelhanas, que funcionavam como ameaça sempre latente.
Acresce ainda outra tese interessante: as campanhas africanas do nosso Exército durante a Primeira Guerra Mundial, que se saldaram por humilhantes derrotas e um número bem superior de baixas às verificadas nas trincheiras da Flandres, foram a sequência natural dessas Guerras de Ocupação e de pacificação das etnias das várias colónias, que nunca aceitaram de bom grado o domínio branco.
Conclua-se, enfim, com outra evidência, que subjaz implicitamente à exposição de Fernando Rosas: vindo a beneficiar substancialmente com essas colónias, que utilizará não só enquanto proveito financeiro, mas sobretudo enquanto fator primordial da sua ideologia imperial, que poderemos entender ridícula em relação à capacidade para gerir e explorar tão amplos territórios, Salazar encontrou o trabalho todo feito em 1928, quando verdadeiramente começou a concretizar a estratégia, que o tornaria ditador absoluto nas décadas seguintes. 

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