
A ingenuidade trágica dessa ambição impressionava, porquanto ela não entendia a vacuidade dos seus esforços, idênticos aos de milhares de outras raparigas exactamente iguais a si, e cujas probabilidades de sucesso - mesmo que medíocre - eram quase nulas.
O filme de Emmanuelle Bercot, «Backstage», evoca uma realidade semelhante através do percurso de Lucie, uma fã obsessiva de Lauren Waks, uma das cantoras de sucesso do seu tempo.
Importa dizer que a interpretação de Isild Le Besco no papel de Lucie é um dos poucos aspectos interessantes do filme, porque o seu próprio rosto traduz uma áurea de sofrimento condizente com o lado masoquista do seu percurso. Nesse aspecto ela ofusca por completo Emmanuelle Seigner, que nunca se consegue libertar do estado catatónico do seu tipo de personagem, comum aliás a outros da sua filmografia.
Mas a cena que, porventura, mais fica do filme é o seu final: depois de ter convivido com a cantora durante algumas semanas, Lucie foi empurrada para o quotidiano medíocre da sua aldeia, já com um filho nos braços e conformada com o seu destino de modesta empregada por conta de outrem.
Para trás fica a descoberta do lado sombrio da vida de palco, com a crise de afectos, os caprichos, as contradições, as pressões dos empresários e dos fãs numa súmula do que tem sido tema de muitos outros filmes.
É a ilusão da imagem como corolário dos mecanismos de transferência de identidade entre pessoas incapazes de saírem do círculo labiríntico das suas frustrações e que ora resulta numa explosão de violência, ora no conformismo de quem se realinha com a massa informe de uma população apática perante a sua própria incapacidade para chegar à Utopia...
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