Os filmes passados na Londres vitoriana suscitam um fascínio particular, sobretudo se apimentados por crimes evocativos do mistério de Jack, o Estripador, ou dos casos investigados por Sherlock Holmes e o seu imprescindível Watson.
Kildare, o inspetor da Scotland Yard, aqui protagonizado por Bill Nighy, insere-se no modelo conandoyliano até por coincidir com o locatário de Baker Street na sugerida pederastia. Peter Ackroyd, o autor do romance em que se basearam os criadores deste argumento, inseriu alguns elementos curiosos na história: a presença de Karl Marx para sublinhar o quanto estava agudizada a diferença entre ricos e pobres, a importância dos espetáculos de music hall como entretenimentos populares e a facilidade com que as multidões eram manipuladas pelos fazedores de opinião no sentido de alimentarem ódios irracionais ou histerias coletivas.
À partida existem vários crimes horrendos por esclarecer, concomitantes com o julgamento de uma conhecida atriz acusada de ter envenenado o marido, um dramaturgo falho de talento e para cuja alcova empurrara uma amante, que a poupasse às fornicações que a enojavam.
Se a favor de Medina contam fatores determinantes como a irrepreensível reconstituição dos cenários e guarda-roupa da época ou uma criteriosa seleção de atores, entre os quais se conta o sempre excelente Eddie Marsan, em sentido contrário surgem as cenas em que os vários suspeitos dos crimes aparecem hipoteticamente a executá-los como se fosse necessário ser redundante para enlear os espectadores na prévia identificação do culpado.
Quando o incómodo se estabeleceu foi inevitável recordar aquele que continuo a considerar o melhor filme sobre tal época e tema: «A Vida Íntima de Sherlock Holmes» de Billy Wilder, que bem valeria a pena reexibi-lo para o ano a pretexto dos cinquenta anos passados sobre a sua estreia. Comparativamente com esse título de um grande cineasta, este seu sucedâneo fica uns furos abaixo, merecendo o olvido a que, em pouco tempo, o condenaremos.
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