Para que serve um livro, uma peça de teatro ou um filme? Apenas para entreterem ou para nos fazerem pensar, remetendo-nos para abordagens, que nos incitem a uma análise mais profunda dos tempos em que nos movemos? A resposta que defendo é, obviamente, a segunda, muito embora os suspeitos do costume - aqueles que querem que as coisas continuem a ser como são! - tudo façam para que as mentes se alienem, se enferrujem o bastante para que deixem de pensar e só sigam as orientações dos que querem-nos escravos em vez de seres livres.
Numa altura em que a tragédia de Moçambique a todos nos impressiona, José Eduardo Agualusa afirma ao «Público», que “a política é tudo. E o que é a Literatura? Os livros são território de debate. Se um livro não servir para fazer pensar na sociedade em que se vive, serve para quê?”
Na mesma linha de pensamento segue António Pires, o encenador de um notável texto de Bertolt Brecht—«Terror e Miséria do III Reich» - atualmente em cena no Teatro do Bairro e que considera o “teatro enquanto algo que interfere na sociedade e que tem a capacidade de, com frequência, ver coisas onde mais ninguém vê, de espelhar a humanidade e de chamar a atenção para factos sociais.”
Conclua-se com a reiteração da mesma perspetiva por Afonso Cruz, de quem acabei de ler «O Princípio de Karenina»: “todos temos uma espécie de vivência mítica, arquetípica. E as histórias são um pouco o reflexo disso em determinado contexto, em determinada situação, mas o seu sumo e o seu caroço continuam a ser verdade noutras circunstâncias, noutro ambiente, noutro contexto.”
No fundo dediquemo-nos a ver, a ouvir e a ler, nunca nos dando ao luxo de ignorarmos o essencial. O que nos deverá indignar. O que nos incitará a mudar estas nossas circunstâncias, ainda tão distantes das mais que justificadas Utopias.
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