O genérico ainda não passou e já temos o tom em que o filme se irá desenvolver: um homem em cadeira de rodas está a ser julgado por, na noite de Carnaval, estar associado ao golpe de uma quadrilha. Embora os gestos o traiam, ele procura convencer o juiz da sua inocência.
Temos, pois, a justiça brasileira ilustrada numa abordagem que muito deve ao norte-americano Fred Wiseman e em que todos os principais actores desse verdadeiro teatro social se vêem representados.
Há, por exemplo, o caso de Carlos Eduardo, que comparece perante uma juíza conhecida pela sua severidade, e acusado de ter um acidente com um carro roubado dois dias antes. Apesar de ter a companheira grávida de sete meses, ele dirigia-se para a praia com três amigas e alega o empréstimo do carro por um amigo, que já o teria há vários meses. A sua história mete água por todos os lados, mas ele encena uma postura de inocência, que nem convence a juíza, nem a advogada oficiosa, decidida, porém, a limitar-lhe a duração da pena. O que não será fácil já que, no seu caso, se trata de uma segunda pena por roubo.
A câmara acompanha Carlos Eduardo na prisão, aonde as condições são tenebrosamente más, e junto da mãe e da companheira. A primeira procura algum conforto na seita religiosa aonde as celebrações divinas correspondem a uma espécie de catarse ruidosa e de exacerbados movimentos. Como se passassem por uma crise de sindroma de tourette.
Quanto à negra Suzana existe nela uma atitude conformada na sua miséria, que se adivinha sempre povoada de gravidezes sem controlo (já vai na segunda!).
Num outro julgamento o professor Geraldo, que até ostenta alguma sensibilidade política (procura um jornal com manifestos anti-Bush!), julga dois rapazes acusados de tráfico de droga e de posse ilegal de armas. Um desses rapazes é quase raquítico e a sua função na favela pareceria ser a de avisar da chegada de polícias com o lançamento de papagaios de papel.
Como contraponto a tais julgamentos encontramos este juiz ou a advogada oficiosa Inês a viverem as suas plácidas existências com as famílias, partilhando com elas as suas opiniões sobre os dramas de que são testemunhas activas. Como é o caso de um outro réu, que se queixa da fome passada na cadeia, já que a alimentação aí fornecida é mínima e a família não lhe serve de nenhum socorro. Por ele e pelos demais réus fica, igualmente, implícita a corrupção larvar, que existe nos polícias e nos guardas prisionais.
No final Carlos Eduardo, o réu cujo percurso mais acompanhamos, acaba condenado a três anos de prisão…
Documento sociológico, «Justiça» é bastante eloquente sobre o estado das coisas num Brasil ainda demasiado vincado pela miséria, pela delinquência e pela incapacidade das instituições…
Vemos, ouvimos, lemos e experimentamos. Tanto quanto possível pensamos pela nossa própria cabeça...
domingo, dezembro 27, 2009
«Justiça», filme de Maria Augusta Ramos
sábado, dezembro 26, 2009
Filme: «REMARQUE: A GLÓRIA E O EXÍLIO»
sábado, dezembro 19, 2009
Quem é Afinal Jackson Pollock?
segunda-feira, dezembro 14, 2009
«DANÇA COM O TEMPO» de Trevor Peters
domingo, dezembro 13, 2009
Maria Callas- Tosca, second Act part 6 (Vissi d´arte)
É quase uma fatalidade que existam tão poucas imagens filmadas da mais importante actriz lírica do século XX quando, na mesma época do seu esplendor, já as câmaras começavam a entrar nos teatros e a registar récitas, como ocorreu em 1954 com a versão de «Don Giovanni» de Furtangler ou em 1958 com a «Força do Destino» com Tebaldi.
Os raros documentos em vídeo remanescentes com Maria Callas devem ser apreciados com prudência, porque terão sido rodados em recitais ou galas no crepúsculo da sua carreira.
Excepção a essa atitude será a do segundo acto da «Tosca» no Covent Garden, quando, aos 41 anos, Callas reencontra a segurança vocal que nos vale um dos seus mais belos «Vissi d’arte»
A intensidade da interpretação, nomeadamente a do seu olhar e dos movimentos de mãos, atingem uma elegância quase coreográfica. Trata-se de um dos raros documentos que faz jus à sua lenda.
sábado, dezembro 12, 2009
Um mufti de visão muito curta!

sexta-feira, dezembro 11, 2009
Le Silence de Lorna
O que se revela uma constante no cinema dos irmãos Dardenne é o recurso a temáticas «pesadas», pouco atraentes para quem do cinema tem a pretensão de colher mero entretenimento.
Por outro lado não deixa de ser singular que provenha da Bélgica do tenebroso Dutroux a insistência no perigo iminente para as crianças nos seus filmes mais recentes: em «O Filho», um miúdo é colocado em reabilitação na oficina de mecânica cujo proprietário é o pai do miúdo que matou. Em «A Criança» um jovem adolescente decide vender o filho, que teve com a namorada. Em «O segredo de Lorna» o bebé supostamente existente na barriga da jovem albanesa, até então envolvida no tráfico dos «casamentos brancos», arrisca-se a ser abortado ou morto com ela, se ambos não conseguirem escapar às máfias em causa.
Não se encontram, pois, ambientes glamourosos como os habitualmente criados nos estúdios de cinema. Os personagens dos Dardenne vivem miseravelmente, sempre no fio da navalha, e procuram utilizar os expedientes mais à mão para continuarem a despertar para cada novo dia.
E os realizadores não facilitam a vontade que acompanha cada espectador no sentido de sair aliviado da sala escura à pala de um final feliz. Mesmo que os personagens consigam escapar fisicamente incólumes às suas experiências de vida algo extremas, acompanhá-los-á as marcas evidentes dos traumas por que são obrigados a passar…
terça-feira, dezembro 08, 2009
Entre a verdade e a lenda

segunda-feira, dezembro 07, 2009
A Ponte das Flores

sábado, dezembro 05, 2009
Medea Cherubini Maria Callas
Quando se pensa em Maria Callas considera-se que ela fez com que reportórios anódinos atingissem as dimensões do drama wagneriano. Embora só no início da sua carreira tenha experimentado as árias do compositor de Bayreuth.
Mas a sua lenda resultou de uma célebre noite de 1953, no Scala de Milão, aonde dirigida por Bernstein e acolitada por cantores menos impressionantes do que os de outra célebre gravação em Londres, ela teve um desempenho inesquecível.
Já de si o maestro cuidara de estilhaçar o academismo de Cherubini, levando a sua orquestra para uma ambiência mais pr´xima da de Richard Strauss ou de Beethoven.
Mas, segundo narra Vincent Agrech, bastaram trinta minutos do último acto para compreender até onde o som pode assumir uma violência física, uma tensão nervosa próxima do insuportável, quando uma enraivecida orquestra parece precipitar-se no assalto à solista e é por ela rechaçada com todo o seu corpo e voz.
Callas nunca mais viria a ser a leoa indomável, que então se viu. Compreende-se, pois, porque, quem então a ouviu, tenha ficado ofuscado por tal momento até ao resto dos seus dias...
terça-feira, dezembro 01, 2009
Antigos pioneiros (2)
Antigos pioneiros (1)
