sábado, maio 17, 2008

SONHOS HÚMIDOS

Foi na viragem dos míticos anos 60 para a década seguinte, que se organizou em Amesterdão o Wet Dream Festival, organização underground destinada a promover o cinema pornográfico como símbolo da Revolução Sexual então em voga.
De todos os países ocidentais compareceram centenas de jovens dispostos a verem filmes proibidos, que explicitavam todas as transgressões possíveis. O sexo funcionaria, então, como uma espécie de combustível da Utopia.
«Jouissez sans entraves», o documentário de Yvonne Debeaumarche vai à procura de quem organizou ou se limitou a participar nesse evento, que se inseria na lógica afirmativa de um novo tipo de sociedade.
Jim Haynes era um dos principais responsáveis pelo festival: norte-americano, que se assumia como um autentico guru da contracultura, ele vivia então em Londres, aonde estava ligado a um dos jornais de vanguarda da cultura hippie, que propunha o sexo sem limites como forma de quebrar as grilhetas do pudor. Que eram as que serviriam o poder a derrubar.
Nessa época em que a pílula ainda não estava disseminada, o grande terror das raparigas era engravidarem. O resultado era uma espécie de miséria erótica.
Quando Londres se tornou demasiado perigosa para a liberdade dos editores da revista «Suck», Jim Haynes e Bill Lévy mudam-se, da armas e bagagens para o Continente. Amesterdão era, então, o local ideal para prosseguirem a sua militância no principal conceito que defendiam: o mundo tornar-se-ia bem melhor se se fizesse amor em vez da guerra. Pondo fim aos Vietnames ou aos Biafras, que então invadiam os noticiários internacionais.
Os filmes que concorriam ao «Falo de Ouro» rompiam com todos os tabus. Sade, até então votado à clandestinidade, ressurgia na sua devida relevância. A violação e o sadismo surgem em «Justine», um filme de escasso valor cinematográfico, da autoria de Claude Pierson, mas deveras significativo enquanto móbil de uma ruptura.
A própria homossexualidade ganho foros de cidadania com a projecção de um filme de Jean Genet, a preto e branco. A par da zoofilia, da pedofilia, do incesto…
Exploram-se todos os limites. A regra para os redactores da «Suck» era escreverem sobre tudo quanto fizesse tremer a própria mão.
No último ano do evento - em 1971 - o festival concluiu-se com uma grande orgia a bordo de um barco fretado para levar os convidados até fora das águas territoriais. Quem lá esteve recorda todos em pelota e bolas de haxixe disponíveis para quem quisesse experimentar a conjugação do sexo e do psicadelismo. Em todas as combinações possíveis tendo como regra a exacerbação do desejo.
O pior terá sido o regresso a casa, com o ciúme a envenenar o que fora concebido como um acto de libertação. Afinal os afectos sobrepunham-se às teorias e poucos gostavam de ver os parceiros ou parceiras a terem relações com desconhecidos.
Muitas dessas almas inquietas começaram aí uma regressão, que, nalguns casos, os levariam depois a execrar o que até então haviam acreditado. Passando do oitenta para o oito, assumindo-se como guardiões de uma moral, que tanto haviam posto em causa.
A idade do Ouro da Revolução Sexual, que decorreria entre a descoberta da pílula e o surgimento da Sida, teria aí o seu advento ...

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