domingo, dezembro 16, 2007

ABBAS KIAROSTAMI E O ESPAÇO PRIVADO

A reportagem com que começa o programa cultural do canal franco-alemão ARTE diz respeito a Abbas Kiarostami, realizador iraniano, tornado conhecido com a Palma de Ouro em Cannes atribuída, em 1987, com «O Sabor da Cereja».
Essa consagração internacional leva-o a dizer-se muito mais livre hoje em dia, já que não depende de ninguém para levar por diante o seu trabalho.
Mas convirá notar que Kiarostami evita filmar o espaço privado, aquele sobre o qual a censura do seu país mais facilmente encontraria motivos de rejeição.
Cineasta do tempo, a paisagem é protagonista dos seus filmes, mediante o recurso frequente aos planos-sequência.
Isso não significa que o seu cinema seja menos político. Porque o espaço privado aparece representado nos carros, quase sempre presentes nas suas obras. Sinónimos de movimento, eles acabam por permitir a abordagem dos temas caros ao realizador como o da violência entre homens e mulheres.
Mas a verdadeira razão porque Kiarostami é muito menos incomodado pelos censores do seu país do que alguns dos seus colegas de profissão, reside no facto de ter ganho a reputação de ser um realizador de filmes para festivais, que internamente só interessarão a uma pequena elite, incapaz de pôr em causa o poder dos ayattollahs.

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