Mas para contrabalançar o peso dessa temática, a peça começa enganadoramente a falar de amor, mais precisamente do que liga Romeu à sua desinteressada Julieta. Ora é do desamor, e mais especificamente do ódio, que surge essa vontade de acabar com o tempo das palavras simples e das certezas confortáveis e partir para o desconhecido. Este assume a vertente da escolha aleatória de qualquer vítima, incidindo nela a mesma demonstração do fim dos ilusórios equilíbrios estilhaçados. Mesmo que, desde cedo, fique demonstrada à saciedade a inocuidade desses gestos desesperados…

O outro momento de alvoroço, mas demonstrativo de como as palavras podem ser poderosas na transmissão de uma superlativa crueldade, é a cena em que Tiago Rodrigues conta, em português, como o jovem soldado decidira matar, de forma gratuita, a velha miserável, sua vizinha do andar de cima. Não me recordava de uma tão convincente descrição de acto cruel desde a leitura, há muitos anos atrás, da morte de um gato às mãos de uns miúdos irreverentes no romance de Mishima «O Marinheiro Que Perdeu as Graças do Mar».
Uma abordagem ainda à utilização dos suportes multimédia para fundamentar o texto. A interligação dos actores com a tela onde se projectam imagens, quer de Verona, quer da sala aonde o espectáculo decorre, mostra bem como os caminhos evolutivos do teatro passarão, inevitavelmente, pelo diálogo da sua forma com a de outros veículos da mensagem artística...
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