Vemos, ouvimos, lemos e experimentamos. Tanto quanto possível pensamos pela nossa própria cabeça...
domingo, maio 24, 2009
Maupassant e a Torre Eiffel
Há cento e vinte anos, quando foi inaugurada no âmbito de uma Exposição Universal a que não deveria sobreviver, a Torre Eiffel foi objecto de grandes ódios por parte da intelectualidade parisiense de então. O caso mais emblemático era o de Guy de Maupassant que preferia jantar do restaurante do 1º piso da Torre por ser o único local da cidade donde a sua refeição não poderia ser prejudicada pela sua visão.
Afinal a criação de Gustave Eiffel perduraria todos estes anos e tornar-se-ia num ícone sem a qual a cidade das luzes não poderá passar.
Arturo Toscanini
O que vale é registar alguns dos momentos, que deram a Arturo Toscanini uma dimensão lendária.
Tudo começou aos 19 anos, quando ainda era violoncelista de uma orquestra italiana em digressão pelo Brasil e deparou com a incapacidade do maestro em dirigir convenientemente a «Aida» de Verdi.
O arrojo com que passou para a liderança da orquestra e

Depois, seguiu-se uma carreira sempre de consagração, em que ia introduzindo inovações (a orquestra no fosso do Scala, o apagamento das luzes da sala enquanto a orquestra actuava, etc.) e se ia deixando seduzir por espaços de eleição.
Bayreuth, por exemplo, ainda se sentia imbuído da ambiência celestial da música do seu idolatrado Wagner. Terá sido a descoberta da obra do grande compositor alemão, a inibi-lo da ambição de chegar à composição: depois da majestosidade da música do autor de Lohengrin, o que poderia surgir da sua própria lavra só seria medíocre. Ou também Salzburgo aonde Mozart continuaria omnipresente.
Mas, a partir dos anos 40, nem um nem outro desses sítios lhe estão acessíveis: antifascista por natureza (apesar de ter sido correligionário de Mussolini antes deste se ter virado para a extrema-direita), Toscanini acaba por se revelar contra as ditaduras ao dirigir aquele que irá ser o embrião da futura Orquestra de Telavive.
Mas não era só a política a suscitar reacções firmes por parte do maestro: ele não deixará de vituperar Stokowski como um incompetente capaz de estragar o prazer de ouvir as melhores composições e Puccini representará para ele o paradigma do plagiador.
Polémica, igualmente, a sua opinião sobre os concertos: «a música não é feita para ver, mas para ouvir».
É ela a possibilitar o raro acesso à sensação de sublime, que amiúde o consegue levar às lágrimas…
segunda-feira, maio 18, 2009
Norberto Lobo - Ayrton Senna
Há tanta gente na música aqui produzida, que nunca chega ao conhecimento da maioria dos portugueses. A de Norberto Lobo é só um exemplo. Na sua interpretação de temas, que se associam a sons lusófonos, existe uma óbvia mestria no deidlhar da sua viola...
sexta-feira, maio 01, 2009
Patricia Kaas - Elle voulait jouer cabaret
Alguns anos de silêncio não desalojaram Patrícia Kaas da sua condição de cantora mais importante da música francesa actual.
O seu novo espectáculo, ligado ao seu mais recente álbum acabado de editar, chama-se «Kabaret» e constitui uma verdadeira viagem no tempo até esses anos 30 em que a moda de Coco Chanel, a androgenia de Greta Garbo ou o erotismo de Anais Nin marcavam uma certa forma de feminino em breve amordaçado pelo advento das ditaduras fascistas.
Nessa abordagem da atmosfera musical de Kurt Weil e Bertold Brecht, Patrícia assume-se como mulher fatal com um pé no vanguardismo da época e o outro na decadência de que seria igualmente caracterizada.
Mas a cantora não deixa de aqui proceder a um verdadeiro monólogo interior pelo qual é o próprio sentido da vida a estar em causa.
Um bom exemplo disso mesmo é a canção mais pessoal do disco, na qual a cantora lembra a sua mãe, precocemente desaparecida!
Embora quase desconhecida entre nós, Patrícia Kaas merece ser ouvida como exemplo representativo de uma cultura europeia cada vez mais distante dos circuitos de distribuição, que aqui chegam.
O exemplo vem do Oriente
É claro que ela corresponde ao padrão consumista ocidental em que as modas aparece

Em paralelo com isso, o jornalista refere o exemplo coreano aonde existem milhares de cantores distribuídos por companhias de ópera das diferentes províncias do país. Ou o de 60 milhões de crianças chinesas a aprenderem música clássica ocidental, praticando-a regularmente com mestres atentos e rígidos.
Conclusão de tão interessante texto:
«Há uma diferença cultural gritante: enquanto os ocidentais se identificam com os que são como eles (num nivelamento por baixo), os orientais procuram ser tão bons como os que estão acima deles. Na China os jovens aprendem a tocar piano ou instrumentos de corda porque os seus pais sabem que isso os tornará mais fortes nas universidades, dando-lhes uma formação (para além de concentração, disciplina e regras) superior.»
Compreende-se assim que, mesmo nas escolas portuguesas, as crianças de origem ucraniana ou chinesa acabam por ser melhores estudantes que as demais de origem portuguesa.