De facto, por essa altura, estava atiçada a luta dos ideólogos do regime contra quem apodavam de «formalistas», porque se interessariam mais pela forma do que pelo conteúdo do que faziam. Ora, para Jdanov, o responsável estalinista pelas áreas culturais, toda a obra de arte só possuiria sentido se se orientasse para a mobilização das massas em prol dos objectivos do regime.
Quem fizesse arte pela arte estaria sujeito a ser considerado um inimigo do regime. E a sofrer as inerentes consequências...

Para os que lhe invejavam esses sucessos, Prokofiev era um alvo particularmente apetecível. Embora ele não lhes facilitasse a tarefa, ao acomodar-se à composição de diversas obras (consideradas menores!), que satisfariam as pretensões propagandísticas do partido!
Isso não bastou para evitar a dramática situação da sua primeira mulher, Lina, que renitentemente acedera a acompanhá-lo no regresso a Moscovo e aí viria a ser presa e acusada de espionagem. Apesar de, entretanto casado com Mira, Prokofiev jamais se livrará da consciência de culpa de ser o principal responsável pela queda em desgraça dessa mulher a quem amara e que, só em 1956, se viria a libertar dos campos de trabalho siberianos.
Prokofiev já não veria esse momento, porquanto morrera três anos antes, precisamente no mesmo dia em que José Estaline também desapareceu.
Apesar de exemplos como estes contribuírem para não alimentar grandes ilusões sobre a bondade do regime soviético, também me continuarei a insurgir contra quem insiste em o ver numa mera lógica maniqueísta sem sequer tomar o cuidado básico de situar esse tipo de injustiças no seu devido contexto histórico.
Se à distância se podem arriscar juízos de valor, no momento em que tais momentos eram vividos, nenhum governante seria capaz de vislumbrar qual a política mais eficaz no instante em que teve de a estratificar...