sábado, janeiro 31, 2009

Beethoven - Symphony n.7 [2/4] - Abbado (Berliner Phil) Rome

Este Allegreto de Beethoven, ademais dirigido pela sábia batuta de Claudio Abbado, é um dos mais belos trechos que a História da Música comporta. Mormente se nos deixarmos levar pela sucessão de silêncios entre cada nota. Porque esta é música para se saborear sem pressas e em momentos de perfeição...

segunda-feira, janeiro 26, 2009

Uma viagem de elefante

Há um elefante chamado Salomão, que o rei dom João, o terceiro de Portugal, envia de presente ao primo, o arquiduque Maximiliano da Áustria, momentaneamente aposentado em Valladollid. E há um cornaca, Subhro, que lidera essa expedição saída de Belém com um destacamento de cavalaria, junta de bois e uns quantos serviçais para ajudarem no que for sendo preciso.
Embora muito doente enquanto ia escrevendo esta história, que volta a ter algo de épico, Saramago quase se diria apostado em retomar as ambições do seu extraordinário Memorial. Tanto mais que, a par da narrativa em si, o autor não se exime de ir acrescentando considerações sobre os personagens num distanciamento brechtiano, mas orientado para uma ética humanista de quem já muito viveu e sabedoria colheu.
Embora ainda a um quarto da história, «A Viagem do Elefante» está a constituir uma experiência muito rica para os leitores que somos. Porque na ligeireza algo divertida em que nela nos deixamos evoluir, vamo-nos deixando guiar por uma concepção histórica e ideológica com a qual não podemos deixar de estar sintonizados…

sábado, janeiro 24, 2009

UM CONCERTO PRETERIDO

Elizabeth Davis é esta "performer" da percussão, que procura incessantemente renovar e sentir, com todo o corpo. Mas nem tem de pensar que dança com as baquetas. Para ela é uma questão de instinto.
É assim que Pedro Boléo termina o seu artigo no suplemento «Ípsilon» do «Público» e onde aborda a personalidade de uma percussionista de excepção na cena musical portuguesa.
Nos concertos em que já assistimos à sua actuação sempre nos agradou essa forma dançada como ela se movimenta perante os seus tambores e neles faz soar a música por outros inventada. Em relação a qualquer outro percussionista a sua personalidade prima claramente pela diferença.
Talvez tivesse valido a pena ver o concerto hoje ocorrido no CCB, mas a verdade é que a maestrina Júlia Jones, igualmente prevista no programa esteve longe de nos entusiasmar da última vez que a vimos.
E agora não vale a pena lamentar sobre o que já não vamos a tempo de emendar…

SUCESSIVAS TENTATIVAS DE ASSASSINATO

Não tem havido politico mais sujeito a sucessivas tentativas de assassinato político do que José Sócrates. Antes de se tornar primeiro-ministro inventaram-lhe uma ligação homossexual com um conhecido actor. Depois, já após a chegada ao poder, foi toda a história relacionada com as suas habilitações como se, para o bom exercício das suas funções, fosse determinante ser licenciado ou bacharel.
Surge agora requentado o caso Freeport já contra ele instrumentalizado em 2005, em véspera das legislativas anteriores. Agora, com origem na TVI e no semanário «Sol» voltam à carga contra ele.
A perfídia não desarma: é essa a condição do tal jornalismo de sarjeta, que deveria merecer o maior repúdio de quem prima pela decência no seu quotidiano.
Esperemos que, a exemplo, das tentativas de assassinato de carácter anteriores, esta acabe por se revelar inócua nos seus efeitos.

Andrew Bird -

Rui Tavares foi aos Estados Unidos ver a tomada de posse de Barack Obama e trouxe de lá um enorme entusiasmo a respeito de um músico desconhecido: Andrew Bird.
Mas como é sempre difícil explicar por palavras o que é uma música do seu agrado, o autor do texto lembra uma frase de Goethe: "a Arte é medianeira do inexprimível e por isso é uma tolice tentar exprimi-la por palavras". E conta algo de desconhecido a respeito do mais conhecido pintor do século transacto: “Diz-se que após Picasso ter aprendido (ou inventado?) uma técnica nova destruía sempre os primeiros trabalhos que fizera nela, precisamente para mostrar "quem manda".

quarta-feira, janeiro 21, 2009

EXPULSEM O DEMÓNIO

Em Nova Orleães testemunhamos a mobilização dos habitantes de um dos seus devastados bairros para salvarem a paróquia, que constitui o símbolo dos que sempre são esquecidos.
Em «Shake the Devil Off», o realizador Peter Entell ilustra esse combate colectivo alimentado pela fé, pela cólera e pela música.
Quando somos convidados a entrar no bairro de Treme, o furacão Katrina já quase o destruíra seis meses atrás. A maioria dos seus habitantes perdeu pelo menos um membro da sua família, para além da casa ou do emprego. E a revolta omnipresente tem a ver com o abandono das autoridades que, em Agosto de 2005, falharam rotundamente na organização da evacuação da população e na urgente ajuda às suas necessidades.
Quem não poupou esforços para apoiar os seus desnorteados paroquianos foi o padre Jerome LeDoux, que lhes transmitiu o sentido da esperança. Ora, quando o bispo decide transferir o padre e fechar a paróquia, subitamente reduzida na sua importância pela fuga de muitos dos seus antigos fiéis, o bairro revolta-se. De imediato gente de todas as cores e confissões - incluindo as dos ritos africanos - reúnem-se na igreja disposta a resistir. Tanto mais que não estavam longe do local aonde, no século XIX, brancos e negros se reuniram em conjunto pela primeira vez para louvarem o Senhor.
Também por ali terá nascido o jazz, sempre ali presente em todos os cantos do bairro e até durante a missa.
Estão criados os condimentos para uma revolta apoiada por voluntários vindos de todas as direcões.
O realizador Peter Entell é um norte-americano radicado na Suiça, que filmou este documentário a convite de uma das suas amigas residentes no bairro em causa. Adoptando os melhores enquadramentos, Entell mostra-se cúmplice de um quotidiano trepidante onde lágrimas e risos podem perfeitamente coexistir enquanto antídoto aos traumas causados pelo furacão.
À indiferença do Bispo e do Governo Federal os revoltosos de Treme respondem com um hino de luta, cujo título é o do próprio filme. Entell confessa pouco ter realizado de acordo com o seu planeamento prévio, já que a Equipa entregou-se completamente ao turbilhão de acontecimentos do qual resgata momentos de eleição: como quando o padre LeDoux transita pelo cemitério aonde deverá dar missa.

terça-feira, janeiro 20, 2009

O 1º DIA DO PRESIDENTE OBAMA

Hoje é o primeiro dia da Presidência de Barack Obama. Há quem o considere um dia tão histórico nas nossas vidas como o foi o da chegada de Neil Armstrong à Lua ou o da Revolução do 25 de Abril, ou o do 11 de Setembro nas Torres Gémeas de Nova Iorque, sem esquecer a derrocada do Muro de Berlim.
Poderá ser, de facto, o advento de um novo tempo. O do retomar de uma esperança definhada durante décadas pelo militarismo do Pentágono e pela supremacia dos conceitos miltonfriedmanianos na Economia.
Obama entra na Casa Branca, quando o capitalismo selvagem está ainda atordoado pelos efeitos catastróficos da rédea solta em que o deixaram governantes e reguladores. E quando o Iraque pós Saddam é bem demonstrativo da importância de se negociarem diferenças em vez de se imporem conceitos.
Talvez seja pedir demais a um homem que estimule por si mesmo uma mudança para melhor deste mundo em que vivemos. Mas ele poderá simbolizar essa aspiração de utopia que, por anos a fio, pareceu abandonar a Humanidade. Pelo menos desde que ficou exemplificado como as mais generosas ideologias podem estimular as mais hediondas ditaduras…

sábado, janeiro 17, 2009

COM A GUERRA DE GAZA POR FUNDO

Como será o país daqui a uns anos? Se tempos houve em que tudo pareceria encaminhar-se para a resolução de muitos dos nossos atrasos e para a garantia de um tempo mais bonançoso, sucessivas crises importadas de fora e sem grande ajuda de quem, internamente, mais deveria lutar por esse objectivo, está a incrementar uma cultura de pessimismo para a qual não parece haver paliativo. Até um comentador de assuntos económicos comedido como o é Daniel Amaral aposta no advento de crises maiores:
Um país em exclusão social, onde a juventude não tem esperança, a família não se desenvolve e a população envelhece - um país como este é um barril de pólvora. A pobreza desperta situações de revolta, a fome é má conselheira e os desesperados não têm leis. Um país como este precisa de uma gestão com pinças, porque o mais pequeno descuido pode redundar em desgraça.


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Nos jornais vão surgindo comentários políticos sobre a Guerra em Gaza, muitos dos quais procuram legitimar o inimaginável: os crimes contra a Humanidade, que o poder sionista está a executar, matando gente encurralada numa exígua prisão territorial.
Acostados ao apoio da Casa Branca e de alguns governos europeus, que lhes servem de cúmplices nesse genocídio, os israelitas há muito perderam a legitimidade moral a eles conferida na condição de vítimas da barbárie nazi. Hoje são eles os bárbaros, que violam as mais elementares regras civilizacionais. E que mais contribuem para a justificação de outra forma de barbárie não menos odiosa: a dos fanáticos integristas, que se substituem aos políticos laicos um pouco por todo o mundo muçulmano.
É o insuspeito António Vitorino quem acaba por reconhecer numa das suas crónicas, que Israel não pode aspirar a sustentar as suas razões perante um cenário de verdadeira catástrofe humanitariamente, que deliberadamente está a provocar.


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Num documentário sobre a vida animal, o apresentador pondera no dilema moral de nos colocarmos ao lado do gnu acabado de caçar ou da leoa para quem essa carne garantirá a sobrevivência das suas crias.
Tal como no respeitante aos israelitas e aos palestinianos, ambos os lados têm as suas razões. Deverá ser terrível para a vítima sentir os dentes do carnívoro a apertarem-se nas suas goelas. Mas Tamu, a leoa em causa, já está tão fraca, que aquela presa será porventura a derradeira possibilidade de sobrevivência, quer de si, quer das três crias a quem já salvou de outras ameaças.
Impossível, pois, não tomar partido por um dos lados. No documentário em causa a simpatia do apresentador está com a leoa. No caso da Guerra em Gaza estou, obviamente, com as vítimas contra o seu predador sionista…


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A mais absurda irracionalidade está demonstrada num documentário televisivo dedicado à cultura da vingança na Albânia. Vigorando a regra do «olho por olho, dente por dente», as famílias vão-se matando entre si para comprovarem a sua honra e se mostrarem à altura dos que morreram violentamente.
Há uma freira, que se desloca num permanente corrupio de contactos para desarmar a raiva nos corações, mas o seu esforço parece fútil perante um tal peso das tradições.
E, no entanto, compreende-se facilmente, que iniciado um ciclo de morte entre duas famílias, ele jamais se concluirá … a não ser quando nenhum restar.

sábado, janeiro 10, 2009

«THE STING» de GEORGE ROY HILL

Em 25 de Abril de 1974 um dos filmes em exibição em Lisboa era «A Golpada» de George Roy Hill. Premiado com os Óscares desse ano o filme era o melhor exemplo de como as aparências iludem, de como a realidade diverge em absoluto daquilo que sugere. Ora nos dias anteriores à Revolução de Abril o país parecia completamente diferente daquele que despertaria para uma nova forma de encarar o mundo a partir desse acontecimento regenerador.
Regressar ao filme, passadas três décadas e meia, equivale a recordar essa ilação: que nem mesmo nas alturas mais difíceis, vale a pena desesperar, porque tudo pode suceder de um momento para o outro. Uma utopia ou mesmo um novo conjunto de circunstâncias, que devolva esperança ao cristalizado desespero…


Estamos em Chicago em 1936 e Johnny Hooker (Robert Redford) integra um pequeno bando de carteiristas apostado em pequenos golpes. Num deles, porém, tomam como vítima um correio da Máfia a quem conseguem extorquir uns bons milhares de dólares. O que leva o tenebroso Doyle Lonnegan (Robert Shaw) a ordenar a vingança inevitável.
O velho Luther, que contava reformar-se com a parte recebida desse último golpe, acaba por morrer, projectado para a rua a partir do seu modesto apartamento.
Conseguindo fugir, Johnny fica a saber pelo corrupto polícia Snyder a identidade do comanditário daquele crime e decide, ele próprio, procurar Lonnegan para fazê-lo pagar a morte do sócio. Para isso conta com a colaboração de Henry Gondorff (Paul Newman), que Luther lhe recomendara como sendo o professor ideal para a carreira de vigarista em que apostava. Mas, Henry está longe de o convencer de início, já que encontra-o completamente embriagado nas traseiras de um bordel aonde se esconde da polícia federal, depois de ter enganado um Senador.
Mas ele começa logo por lhe temperar as emoções de rápida vingança em que se poderá perder. E começam ambos a organizar uma golpada com a conivência de um grupo de outros vigaristas, que terá em Lonnegan a sua vítima, fazendo-o crer na possibilidade de ganhar uma fortuna com a aposta certeira em corridas de cavalos.
A armadilha é tão bem idealizada, que o mafioso fica sem meio milhão de dólares e acaba convencido que os autores dessa façanha morrem na agência de apostas clandestina.
E para Hooker a lição propiciada por Gondorff é tão completa, que inclui a salvação da sua pele, quando está em vias de ser assassinado por outro dos comanditários de Lonnegan e que fora sua breve amante pelo espaço de uma noite…

domingo, janeiro 04, 2009

VALSA COM BASHIR

É certo que, quer antes, quer depois do massacre dos campos de Sabra e de Chatila, a História da Humanidade tem sido fértil em massacres odiosos perpetrados por cobardes armados contra gente indefesa cujo único «crime» é serem obrigadas a estar no lugar errado à hora errada. Mas esse lamentável episódio ecoou ao longo destas décadas e continua a perdurar na memória de muita gente.
O problema com o realizador israelita Ari Folman foi precisamente o inverso. Ele estava lá num dos círculos de militares israelitas, que cercava os campos e protegia os falangistas cristãos autores do crime. E esqueceu tudo alienando tal vivência da sua memória.
O que perdurava era uma espécie de sonho em que, nu, ele e alguns amigos, emergiam da água junto a uma cidade sob um céu nocturno iluminado por «very lights».
O que quereria dizer tal sonho?
Instado por um amigo psicólogo a perscrutar nesse terreno complicado da memória ele vai ao encontro de outros amigos e antigos colegas para, das respectivas reminiscências, recuperar as suas.
Trata-se, pois, de uma viagem ao fim da noite da memória e em que está em causa toda a política militarista do seu país, feita de atirar rapazes de dezoito e dezanove anos para a frente de batalha sem cuidar de sequer lhes facultar qualquer razão mais aprofundada para serem obrigados a matar como o fazem de forma mais ou menos inconsciente.
Fosse este documentário feito de imagens reais e não nos apressaríamos tão lestamente a ir vê-lo tão só estreado no King e no Monumental. Mas a opção pelo desenho animado ganha particular força, porque mantém a credibilidade do testemunho de gente real, sem deixar de ilustrar de forma superlativa os momentos mais dramáticos vividos por esses rapazes atirados para a frente pelos seus generais como carne para canhão.
O efeito «murro no estômago» é plenamente conseguido e sai-se do cinema com a noção de impotência perante uma prática continuada de crimes de guerra, que aproxima o poder sionista da prática holocáustica dos nazis de que tanto haviam sido vítimas.
E as imagens reais com que o filme acaba são idênticas a muitas outras ulteriores a culminar nas dos nossos actuais telejornais, quando está em curso mais uma guerra de agressão na Faixa de Gaza.
Felizmente que este vigoroso libelo contra o terrorismo de Israel é assinado e produzido por israelitas. Lembrando-nos que subsiste muita gente decente em Israel para quem a política dos seus governantes é sinónimo de crime.

sábado, janeiro 03, 2009

Gala Teatro Colón: Gli arredi festivi Nabucco Coro Estable

Desta ópera a célebre ária «Va Pensiero» é bem mais conhecida. Mas estoutra não deixa de ser igualmente um belo momento coral da História da Ópera Italiana.

sexta-feira, janeiro 02, 2009

«Promessas Perigosas», filme de David Cronenberg

"Promessas Perigosas”: filme duro o mais recente da lavra de David Cronenberg. Como sempre na sua filmografia há o tema da metamorfose ou do duplo, em que um ou mais personagens convivem consigo mesmos e com o seu oposto.
A violência extrema começa logo na primeira cena, quando o barbeiro Azim dá ordens ao mentecapto Ekram para degolar o mafioso checheno sentado na sua cadeira de barbeiro.
Noutro ponto da cidade - estamos em Londres - uma jovem adolescente pede ajuda numa farmácia, com uma imensa hemorragia a escapar-se-lhe do útero aonde tem a filha germinada de uma violação. Tatiana não sobreviverá às tentativas dos médicos do hospital para a salvarem, mas deixa ao mundo a criança, que se torna o enlevo da parteira Anna Ivanovna.
É para indagar dos familiares da rapariga a quem pretende entregar a criança, que esta descendente de russos vai procurar a ajuda do dono de um restaurante, o venerável Semyon. Mas dá de caras com o filho deste, o imaturo Kirill, e com o motorista deste, o impassível Nikolai. Que a provocam, mas lhe franqueiam passagem até ao ancião, que logo se interessa por ajudá-la, sobretudo a partir do momento em que ela lhe confessa ter consigo o diário deixado por Tatiana. Sob a promessa de a ajudar a traduzir tal documento e, por ele, encontrar os familiares da defunta, Semyon insta-a a voltar ali ao estabelecimento na tarde do dia seguinte.
Compreende-se, entretanto, que o checheno Soyka fora assassinado a mando de Kirill, que agora recorre a Nikolai para o ajudar a desfazer-se do cadáver. O que o fazem num dos becos, que dão directamente para o Tamisa.
Não tarda que Anna se arrependa de ter contactado com Semyon, já que parece óbvia a sua ligação à máfia russa (Vory v zalone), que estará por trás do tráfico de mulheres em que Tatiana se deixara enredar. Da tradução do seu diário, conseguida do seu tio Stepan, Anna fica a saber que a rapariga fora trazida com 14 anos ali para Londres e aí violada por Semyon depois de Kirill se mostrar incapaz de tal aleivosia. Será o velho o verdadeiro pai da criança a quem ela se afeiçoa como se filha sua fosse. E, de facto, ela corresponde à substituição da própria criança, que abortara aquando da sua antiga relação com um médico negro…
Perante as ameaças de que se vê alvo, não resta a Anna outra atitude que não a de entregar o diário a Nikolai, muito embora o motorista de Kirill lhe inspire surpreendente confiança.
Não admira: ele é um polícia russo infiltrado nos meios mafiosos para os poder manietar. E com sucesso, porquanto recebe as tatuagens de integração nessa organização criminosa. Mesmo no contexto em que Semyon busca confundir os assassinos a soldo dos familiares de Soyka de forma a que eles o matem em vez do seu príncipe herdeiro.
Apesar de alguns percalços complicados o filme acaba por resolver-se num happy end: afastado o «rei» (acusado de violação de menor no caso de Tatiana, denunciado pelo mesmo ADN da bebé!) e o respectivo «príncipe», Nikolai ascende à liderança da organização. Ao mesmo tempo que Anna satisfaz os seus instintos maternos com a adopção dessa mesma criança.
Embora com algumas imagens de particular crueza, «Promessas Perigosas» espelha a ideia que fazemos desse tipo de estrutura criminosa. Em que toda a violência, que possamos a ela relacionada, fica aquém do que a perversidade dos seus chefes consegue conceber!

quinta-feira, janeiro 01, 2009

Thomas Quasthoff - Gute Nacht

No «Novos Tempos Interessantes» está a versão Brendel/ Dieskau, que serve de comparação com esta de Barenboim ao piano e Quasthoff na voz.
Se o timbre de Dieskau me agrada mais, a toada mais lenta desta versão espelhará porventura melhor a desolação intima do poeta ao viajar pelo cenário devastado pelo Inverno...

Presidência Guterres à vista?

Domingos Amaral sempre foi insuspeito quanto ao seu posicionamento político, que se associa facilmente a uma certa direita civilizada. Ou seja aquela direita, que privilegia uma certa racionalidade muito distante do seu carácter troglodita em que ela quase sempre se distingue.
Na sua derradeira crónica no «Diário Económico» ele demonstra bem essa racionalidade ao fazer uma leitura curiosa sobre o presente conflito institucional entre o Governo e Cavaco Silva:
“Como primeiro-ministro, (Sócrates) tem feito o que pode. Passou três anos em contenção para poder corrigir o deficit e depois desaba-lhe em cima uma crise internacional sem precedentes. É azar, e esse azar pode ainda piorar, pois agora Cavaco também quer entrar na dança, e começa a dar sinais de que o tempo de lua-de-mel com o governo terminou. No meio desta grande crise internacional, só nos faltava mais esta: um presidente que deseja desestabilizar”.
Mas, no meu optimismo próprio, acabo por ver neste episódio o primeiro capítulo de um processo, que se concluirá com a reeleição da maioria absoluta de José Sócrates e a eleição do Presidente Guterres.

Freddie Hubbard

«Juventude criativa, energia, velocidade, virtuosismo, inovação, humor, alegria... Mas também dependência do alcool e droga, e a inevitável inconstância e irregularidade que isso aportou a uma carreira que, mesmo assim, se prolongou por meio século e mais de 300 discos. Foi assim a vida e a obra de Freddie Hubbard (1938-2008), trompetista americano de jazz que morreu na segunda feira, na Califórnia, aos 70 anos.»
Texto de Sérgio C. Andrade no "Público» de ontem.