sábado, novembro 29, 2008

Teremos sempre Paris!

É uma das cenas inesquecíveis da História do Cinema. Bogart e Bergman a despedirem-se no aeroporto de Casablanca e aquele a dizer que, por muitas voltas o mundo dê, a ambos há algo que ninguém lhes retirará: os momentos felizes partilhados a dois...
Por isso há que ir acrescentando tais momentos sempre na convicção de que, mesmo tardando a Utopia, vão crescendo em nós essas gratas recordações de cumplicidades alimentadas...

segunda-feira, novembro 17, 2008

UM HOMEM SEM RUMO

A peça de um dramaturgo norueguês Arne Lygre é bastante actual no que diz respeito à ambição ilimitada, à avidez pelo dinheiro ou à solidão de todos, mesmo quando se fazem rodear por supostos familiares.
Mas, sobretudo, permite ao elenco da Comuna mostrar os excelentes actores, que ali se exprimem. Aos já conhecidos Carlos Paulo, Jorge Andrade ou João Têmpera, juntaram-se três actrizes de notável capacidade não só na sua dicção, mas também na capacidade para exprimirem os sentimentos, que as trazem àquele fiorde aonde antes nada havia e onde, trinta anos depois, está uma cidade.
A encenação de Álvaro Correia é bastante funcional, aproveitando o espaço da sala de uma forma bastante eficaz. Pena foi que, num domingo à tarde, fossem apenas duas dezenas os espectadores privilegiados com um esforço honesto e competente de tão esforçado elenco...

domingo, novembro 16, 2008

A VISITA À YORK HOUSE

Era um daqueles espaços míticos pelos quais se passa tantas vezes e relativamente aos quais se repete a curiosidade sobre o que o caracterizará lá dentro. Na Rua das Janelas Verdes a York House era um desses exemplos mais paradigmáticos até esta tarde, quando a experiência gastronómica no seu restaurante A Confraria suscitou apreciações extremadas: a sopa, por exemplo, de cogumelos com miolo de vieira foi dos melhores ágapes conhecidos nos últimos tempos. Mas os pratos de peixe desiludiram: o cozinheiro Nuno Diniz anda a ganhar progressivo prestígio, mas revela-se demasiado afeiçoado às gorduras para os nossos hábitos alimentares.
Mas o espaço em si corresponde ao que se espera de um hotel de charme: com um espaço ao ar livre sobre as árvores, que deverá ser particularmente agradável na Primavera ou no Verão, e o acesso da porta de entrada à recepção do restaurante faz-se por escadas alusivas ao espírito romântico, que deverá ter estado no espírito de quem fundou esta conhecida casa.
Foi, pois, experiência curiosa para desmistificar a ideia superlativa dela criada, mas não tão entusiasmante quanto prenunciava a degustação da referida sopa…

A exposição na Ellipse

A Fundação Ellipse fica em Alcoitão e constitui um dos mais interessantes espaços aonde se pode apreciar arte contemporânea no nosso país. Embora tenha nascido com maior ambição - nesta altura só abre três dias por semana - a quase ausência de visitantes é bem o espelho de um tempo e de um espaço avessos às preocupações culturais, sobretudo se elas se revelam demasiado ousadas para as embotadas mentes de muito boa gente.

Afinal quem anda  a fazer queixa à ERC a propósito dos sketches dos Gatos Fedorentos ou dos Contemporâneos passariam por horrores se vissem quadros, esculturas ou fotografias, que remetem explicitamente para sexualidades exuberantes e muito pouco convencionais.

Há a óbvia prisão da sensibilidade feminina segundo Louise Bourgeois, as experiências singulares de Matthew Barney ou de Baldassari, as fotografias dos amigos de Nan Goldin ou as telas singulares de Julião Sarmento.

No vasto espaço as obras respiram, possibilitam uma apreciação sem constrangimentos. E existem dois vídeos curiosos, sobretudo o de uma mulher de origem árabe, que utiliza meios ambiciosos para expressar os limites colocados às mulheres num mundo dominado pelas religiões. Sem entusiasmar por esta ou aquela obra em si, a exposição vale pelos estímulos por todas suscitados.

domingo, novembro 09, 2008

Geração Iraque

«Geração Iraque», um filme de Barbara Necek, começa por parecer um filme ambíguo em relação ao tema abordado: o estado de alma dos jovens soldados em plena formação antes de seguirem para o Iraque.  Muito jovens, nos seus dezanove ou vinte anos de idade, eles papagueiam o discurso oficial, que os torna defensores do modo de vida norte-americano ameaçado pelo terrorismo e a missão respeitosa de levar a outrem os ideais de democracia.

Esse lado propagandístico, que faz pensar numa encomenda do próprio Pentágono para justificar as suas estratégias, ainda continua bem presente, quando se constata a criação de nove ou dez aldeias no deserto junto a San Diego para dar aos recrutas as condições mais aproximadas possíveis do cenário com que se irão deparar.

Emigrantes árabes até aumentam a credibilidade de tal simulacro, ao acederem a comportarem-se como figurantes pagos a 25 dólares à hora, assumindo os personagens imaginados pelos criadores de tal megaprodução.

Mas o aliciante do filme resulta da sageza da realizadora em pôr os jovens recrutas a falar, deixando-os enlearem-se nas suas contradições. Afinal os outros estão na sua própria terra e estes ocidentais não deixam de ali chegar como invasores. «Tenho de reflectir melhor sobre o assunto!», diz um desses rapazes, confundido no que diz e silencia e a candura do olhar a dar lugar a inesperada surpresa.

E, quando a realizadora os confronta entre a inexistência de qualquer relação entre os autores dos atentados do 11 de Setembro e os iraquianos ainda mais veemente é a reacção de embaraço nos seus interlocutores.

Um filme, pois, que não deixa de ser elucidativo sobre uma das muitas realidades do país que Barack Obama se prepara para liderar...

 

sábado, novembro 08, 2008

Recordar Serge Reggiani

Há dias o programa do Júlio Machado Vaz e da Inês Meneses na Antena 1 deu-me a possibilidade de recordar uma bela canção de Moustaki cantada por Serge Reggiani: «Tes Gestes».
Infelizmente aqui pelo You Tube não a encontrei para aqui a propor a quem aqui vem consultar os sons, as palavras e as imagens por mim prezadas.
Mas fica a oportunidade para evocar um cantor, que marcou gerações com poemas musicados sobre as multiplas formas de liberdade...

Verdade, Humildade e Solidariedade

Verdade, Humildade e Solidariedade. O título do livro de João Ermida, cuja leitura agora inicio.

Trata-se do relato de um antigo responsável por instituições bancárias que, subitamente, começou a ser tomado de crises de pânico relacionadas com o seu progressivo estado depressivo. Essa crise vai facultar-lhe uma súbita lucidez relativamente ao cenário aonde se julgara realizar profissionalmente nos anos anteriores. E que caracteriza como pejado de pessoas sem qualidades humanas, apenas apostadas em sobreviver independentemente do que tiver de fazer para tal. Um ambiente não só sem amigos, mas com o risco de se ser vítima de facadas nas costas  à menor distracção.

Numa altura em que o capitalismo está a viver uma crise profunda, este é daqueles livros de utilidade evidente para procurar discernir algumas pistas pertinentes para a compreensão do que estamos a viver...

 

domingo, novembro 02, 2008

PORQUE NÃO VOU VER A LISA EKDAHL

Não deixa de constituir uma surpresa: a quase duas semanas do seu espectáculo no CCB, a cantora Lisa Ekdahl já praticamente esgotou a sala.
Frustrada ficou, pois, a possibilidade de colhermos ao vivo as emoções derivadas de um jazz cheio de glamour.

UMA EXPOSIÇÃO EM MADRID

Em Madrid, na galeria La Fabrica, está a decorrer uma exposição do fotógrafo norte-americano Helmut Newton e intitulada «Visionando la Mujer del Nuevo Milénio».
Oportunidade de excepção para apreciar as imagens deste artista nascido em Berlim em 1920 e falecido em Los Angeles em 2004.
O seu tema de eleição era a Mulher, não no conceito em que existia no seu tempo, mas no que ela não tardaria a assumir logo a seguir. Como alguém comentaria, com Newton as mulheres superam a sua condição de objectos sexuais para sujeitos sexuais.
Por isso ele inovará: «Evitei tanto quanto possível fotografar em estúdio. Ao fim e ao cabo, uma mulher não passa a vida sentada ou de pé contra um papel de parede. Embora isso não facilite o meu trabalho, prefiro sair à rua com a ciência, enfiar-me me locais públicos e privados que geralmente só as pessoas ricas frequentam. Foram sempre esses lugares, normalmente inacessíveis aos fotógrafos, que mais me estimularam.»

A TRÊS DIAS DA MUDANÇA

A três dias das eleições norte-americanas cresce a ansiedade em relação ao seu resultado. Tudo parece bem encaminhado para que Barack Obama venha a ser o primeiro presidente de cor a sentar-se na Casa Branca, mas até à madrugada de terça-feira será sempre possível uma qualquer forma de reviravolta, que torpedeie as esperanças de milhões de pessoas em todo o mundo, expectantes quanto à possibilidade de se estar a anunciar uma nova era.
Não é que a nova Administração signifique necessariamente uma ruptura em relação à actual, mas esta é daquelas ocasiões passíveis de exemplificar como, às vezes, a forma pode sobrepor-se em importância ao conteúdo.
E os indivíduos acabam por ter maior importância no desenlace de grandes acontecimentos históricos do que as movimentações de classes pressupostas pela análise estritamente marxista.
É, aliás, isso mesmo o que Nigel Townson sugere, quando dá dos mandatos de George W. Bush um veredicto arrasador: «A invasão do Iraque foi um dos acontecimentos mais desestabilizadores e destrutivos desde a Segunda Guerra Mundial. As suas consequências vão perdurar durante séculos. Neste caso particular, a análise contrafactual mostra claramente a importância decisiva dos indivíduos em certos momentos da História.»