terça-feira, junho 27, 2006

O ENTERRO DE NATE

Nas últimas semanas temos assistido fielmente ao desenlace da série «Sete Palmos de Terra». Vemo-la como se fôssemos vizinhos, ou mesmo familiares daqueles personagens, que ilustram outros tantos estereótipos - mas bem complexos - da diversidade humana.
Os episódios desta quinta temporada são, porventura, ainda mais intensos, que os das anteriores. Como se, perante a inevitabilidade da morte de um dos protagonistas - esse Nate que, no primeiro episódio da série, regressava a casa, oriundo de Seattle (a terra do seu idolatrado Kurt Cobain), para participar do funeral do pai - todos os demais personagens refinassem os traços do seu carácter.
Uma dessas personagens, que mais nos tem interessado, é a mãe. Ruth passou pela viuvez, por diversos amores, pelo prazer, e depois pela angústia da solidão, até desembocar neste drama de não ter estado presente, quando o seu filho preferido cedia a um aneurisma.
Apesar de sempre apreciarmos o desempenho de outros dos grandes actores da série - particularmente o que faz de David, o irmão homossexual de Nate, mas também todos os demais, capazes aqui e além de grandes momentos interpretativos, este tipo de séries leva-nos sempre de encontro às personalidades mais ou menos fortes das progenitoras.
Como não lembrar a perfídia da mãe de Tony Soprano nessa ânsia de muito se fazer amada, sem sequer retribuir?
No caso de Ruth a caracterização sai menos maniqueísta: ela consegue comover com a sua ingenuidade perante os que a pretendem seduzir, irritar com essa incapacidade de encontrar um caminho bem definido para se realizar; ou odiar, quando trata o seu mais recente companheiro, George, com a crueldade de quem se mostra incapaz de aceitar os acessos de loucura dele.
Acabará por ser esse mesmo George quem , nos discursos perante o corpo, proferirá um discurso elucidativo: Nate esforçara-se por ser um homem bom dentro do seu idealismo, mas nunca deixara de ser igual a qualquer outro dos presentes: tão imperfeito quanto qualquer outro…
E é nessa aceitação das nossas próprias imperfeições que, num fenómeno de conveniente identificação, somos capazes de exorcizar muitas das nossas zangas connosco mesmos...